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Caneiro*Daniel dos Santos
Pereira é um poeta popular natural de Remondes. Este excerto foi
retirado do seu livro "Memórias do Passado" editado em 2001.
Rio Sabor |
Meu Rio Sabor
Olá meu rio Sabor,
Onde se banhou o meu amor,
Onde se banharam meus pais
Meus avós e tantos mais.
A tua corrida é tamanha
Começando lá na Espanha
passando em Bragança e Mogadouro,
Passas por Moncorvo para beijar o Douro.
Em
Permanente jornada
Deixas areia lavada,
Em montes e montões
Que serve para as construções.
Regas amieiros e salgueirais
Também relvas e juncais.
No Verão a tua fraca corrente,
É praia p´ra muita gente.
Agora menos frequentado
Ou direi, quase abandonado,
Porque és mais poluído
Com plásticos e frascos de vidro.
O teu nome é Sabor
E por vezes és fedor
Dos herbicidas das roças
E fezes das fossas.
...
Ir uma semana
p'ro rio
E de noite já fazia frio,
Até se faziam fogueiras
No areal, longe das oliveiras.
Havia quem levasse o lampião
Para enxergar o cascão,
Sinal de boa pesca,
A brisa fora água era mais fresca.
...
O Rio Sabor já não tem o que tinha,
Os moleiros a fazer farinha
Para ganhar a maquia,
E só centeio se comia.
Um moleiro chamado Narizão,
Levava ao ombro um saco de pão
De Remondes até ao moinho,
E dois sacos em cada burrinho.
Vejam só que
trabalheira
Descer e subir a ladeira
Para ganhar um cibo de pão.
Graças a Deus acabou a escuridão
Porque nos rios e nas ribeiras
Já não há moleiros nem moleiras,
Mas há outra facilidade
Rodam moinhos a electricidade.
...
Daniel Pereira*
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