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Texto e
Fotografias: Xo_oX
15 de Agosto de 2007
|
Passeio ao Sabor em busca das rascas

O dia 9 de Agosto foi o dia escolhido
para o já quase tradicional passeio familiar ao Rio Sabor, à apanha
das rascas (mexilhão).
A par do meu entusiasmo, só a alegria do
meu filho mais novo, adepto ferrenho das brincadeiras no rio. A ala
feminina da família rapidamente inventou desculpas, não adiantaram
motivações, não foram mesmo.
Saí pouco antes das nove horas, mochila
às costas pela Canadinha. O destino era a Barca. Os ribeiros estão
praticamente secos, bem como toda a vegetação rasteira. Os tons
pastel da terra contrastam com o verde forte dos sobreiros,
carrascos e oliveiras. Na beira dos caminhos encontrei alguns
arranjos naturais de flores secas mas também muito fiolho que
escolhe o mês quente de Agosto para florir.
Antes de Juncais encontrei um grupo de
homens que tirava cortiça. Lançavam os machados com mais jeito que força
contra a macia casca dos sobreiros. Com a ajuda do cabo do machado e
com os pés arrancavam sem compaixão a protecção dos troncos e
pernadas mais grossas. Estas árvores mutiladas, sempre de porte
altivo, recuperam da nudez, sem vergonha, dando nova camada de
cortiça daqui a 9 anos.

Ao chegar à Fonte de Juncais o cenário
muda completamente. Neste lugar, eternamente húmido, a água ainda
escorre em abundância pelos caminhos, mantendo verde uma bordadura
ao longo dos mesmos. Agradecidas, grupos de borboletas, aproveitam
neste oásis as últimas flores que a Primavera não levou.
Também outra presença habitual neste
local, o ti Carrasco, regava o verde milho enquanto apanhava algumas
casulas que cresceram mesmo ao lado das batatas, que, entretanto, já
tinham sido arrancadas. À sombra dos sobreiros a burra albardada
completava o cenário de paz e harmonia entre o homem e a terra.
Continuei caminho adiante, admirando os
sobreiros e olhando as oliveiras que bem precisam que lhe cortem os
bravos. Não tinha planeado qualquer percurso, não resisti em subir
de novo ao alto do Poio. Neste local quente e seco, até as estevas
têm dificuldade em se manterem vivas. Indiferentes, cornalheiras e
zambulhos exibem os seus frutos.
Olhando o vale que se estende até ao
Sabor, sentimos uma grande admiração pela natureza e pela força do
homem que durante gélidos Invernos e Verões infernais arrancou
destas encostas xistosas a luz e o sustento para as suas famílias.
Olhei a Barca, nem sinal de presença humana. Desviei o olhar em
direcção ao Cachão, também não se via qualquer movimento.
Desci a Fonte do Buraco. Pela primeira
vez via a dita fonte! Alguém limpou o espaço em volta, vê-se a
fonte, mas água… nem vê-la. Continuei no caminho em direcção ao
Picão. Há junto ao caminho um pequeno cabeço de rochas, que é um dos
miradouros mais fantásticos que conheço em Brunhoso. Decorado com
cornalheiras e medronheiros, mostra uma visão impressionante do rio,
na Barca.
Estava na hora do almoço mas decidi
enfrentar um novo desafio: subir ao Picão. Apesar de o ter rodeado
várias vezes nunca tinha estado no alto do Picão. Pensava eu que a
paisagem deveria ser deslumbrante, não me enganei.

Situando-se a 417 metros de altitude
(menos 112 que o Poio), permite acompanhar o percurso do Rio Sabor
quase desde que começa a banhar terras de Brunhoso, até que se
despede delas, no Cachão. Pela beleza da paisagem, mas também pela
novidade, foi o momento do percurso que mais prazer me deu. Procurei
os restantes elementos da família ao longo do rio. Consegui ver uma
pequena mancha colorida logo por debaixo da barca. Mudei a
objectiva, forcei o zoom ao máximo, eram mesmo eles, já ansiosos
pela minha chegada para o “almoço”. Descer Picão abaixo em direcção
à barca, pelo bosque natural e selvagem, revelou-se mais fácil e
interessante do que parecia. Pouca vegetação consegue crescer por
baixo de um matagal de carrascos. Quase só encontrei fetos,
troviscos e gilbardeiras.
Comemos um bom “almoço” à sombra de um
sobreiro. Depois de uma sesta, fomos de novo às rascas. Também tinha
que fazer a minha parte na colheita pois levei toda a manhã da aldeia à
Barca!
A água estava muito agradável. O rio, este ano, tem ainda bastante
corrente. Procurei alguns bancos de areia e fui apalpando em busca
do mexilhão. Como habitualmente, quando apareceram os primeiros
bivalves foi uma alegria. Depois, mais uma, outra, outra. Havia
grande abundância. Consegui distinguir facilmente duas espécies
distintas de mexilhão. Uma com a concha escura, mais arredondada
menos frequente mas com maior calibre. Outra, com riscas de verde
azeitona e castanhas, mais alongada, de menor calibre e mais
frequente. Como já tínhamos grande quantidade, uns bons quilos,
dedicámo-nos a fotografar o rio e às brincadeiras na água.

Só voltámos a casa quando o sol se escondeu para os lados
de Vilar Seco.
À noite, depois da ceia, demos uma
limpeza nas conchas do mexilhão. O árduo trabalho prolongou-se até
depois da meia noite.
A confecção coube a tia Ana, segundo uma
receita própria, necessitando de muito tempo de cozedura. |