Quando cheguei a Brunhoso, pelas
9:30, a animação já era muita. Em volta da enorme fogueira, os
caçadores exibiam a sua roupa de gala enquanto conversavam animadamente. Um grupo de mulheres, junto aos assadores,
preparava-se para enriquecer o “mata-bicho” que já constava de
queijo, presunto, figos secos, nozes e azeitonas, com chouriça e
alheira assadas. No corredor descansavam mais de 200 litros de
vinho!
O salão da Casa do Povo encheu-se de
repente. A animação da conversa manteve-se, ninguém parecia ter
pressa.
Sortearam-se as portas. Eu já tinha
escolhido a minha. “Caçador” sem arma, escolhi as Picotas.
Estava no limite da área da montaria, não queria meter-me numa
área perigosa.
Distribuíram-se os caçadores pelas
carrinhas. Juntei-me ao Francisco Ribeiro, caçador com arma, mas
mais convicto do passeio do que da morte de algum javali.
O tempo estava incerto. Enquanto
descíamos pela Bandeirinha e Costa do Amedo, o azul do céu
mostrou-se por entre nuvens, ora mais brancas, ora mais
cinzentas, e assim se manteve durante todo o dia.
Apeamo-nos ali mesmo pelas Picotas.
O movimento era pouco e o silêncio bastante. Subimos ao cabeço
do Forno dos Mouros para admirar o Sabor que corre ainda bem
farto na Barca. Admirámos a obra da natureza que cavou vales,
ergueu montanhas, desgastou rochas e criou “fornos” e a obra do
homem que tirou azeite das rochas que amanhou formando
pequenos terraços onde enterrou zambulhos.
Entrei no tão conhecido “Forno dos
Mouros”. Fiquei surpreendido, pois pelas descrições que me
tinham feito, imaginava-o ao nível do solo. Trata-se de uma
cavidade natural resultante da erosão da rocha. O local é
aproveitado pelas andorinhas que ali fazem os seus ninhos e por
alguns caçadores e pastores que ali acendem fogueiras quando
necessitam de protecção contra os elementos da natureza.
O que me fascinou mais não foi o
interior mas sim o que avista olhando pela entrada em direcção
ao rio. O Francisco Carvalho pensou que o forno me tinha comido!
Na verdade, eu é que saciei os meus olhos enquanto tentava
captar a magia do local numa “pastilha” de bytes.
Descemos ao caminho. Visitámos um
local onde dizem “terem-se matado dois ao murro, por falta de
pedras”! Enigmas da natureza! Quem juntou ali tanta pedra?
Os medronheiros, abundantes na área,
estão viçosos, com os frutos nas primeiras fases de
desenvolvimento e as amendoeiras começam a emprestar ao ambiente
o perfume das suas flores.
Chegámos à Barca. Um grupo de
pessoas totalmente esquecidas das “portas” petiscava restos do
“mata-bicho”. Aqui já se faziam comentários, confirmados
com algumas chamadas por telemóvel, sobre os animais abatidos.
Ouviam-se ao longe o som das cornetas chamando as matilhas,
quando uma raposa atravessou a ribeira e deslizou em direcção às
Picotas.
Acabaram por se juntar na Barca 3
matilhas de cães e mais de uma dúzia de pessoas. Para o fim da
batida, houve alguns excessos. Tiros para o ar e para o rio. Foi
abatido um cão a tiro, que outro pecado não cometeu além de se
mostrar meigo e pouco afoito na batida.
Distribuída a “carga” subimos à
aldeia curiosos com o número de “bichos” abatidos. Contavam-se
6, alinhados num atrelado. Três pequenos, 2 médios e um grande
macho que todos olhavam com admiração. Comentava-se que um outro
animal estava morto do outro lado do rio.
Chegou a hora do almoço! Entraram
“os de fora” com medo que não coubesse toda a gente. Por fim
todos se acomodaram. Roncou a gaita-de-foles dos Cucos de Peredo
de Bemposta, encheram-se os copos e serviu-se a Jardineira.
Contaram-se as histórias dos tiros falhados, das horas perdidas,
das raposas dos gatos-bravos, da ferocidade dos cães que afinal
foram quem mais matou!
Entretanto as Postas foram-se
assando, mas já poucos tiveram “coragem” para saborearem um bom
naco de carne. Adoçaram a boca com pudim.
Já junto à fogueira, leiloaram-se os
bichos.
Após um passeio até ao café, ainda
fomos surpreendidos com uma pequena sessão de fogo de artifício
a iluminar a noite que foi caindo.
O grupo de gaiteiros alegrou
as ruas da aldeia. Assim é que está bem! Gosto que a festa não
seja só dos caçadores e acho muito positivo o envolvimento muita
gente da terra. Organizar estes eventos dá trabalho. Estão de
parabéns todos os que neste se envolveram e que dele fizeram não
só uma montaria mas uma festa.